Capítulo 00000110

O presidente russo se levantou todo orgulhoso, já pensando nos velhos tempos. Agora o mundo ia ver. A KGB estava de volta!

- EU DISSE SOLTEM AS AMARRAS...

- Mas o que são amarras tenente?

- Aquelas cordinhas que prendem o barco no trapiche. Soltem!

- Mas quer que soltemos do barco ou do trapiche?

- Sei lá. Nos filmes somente diziam para soltar as amarras...

- Mas deram um nó inglês!

- Não, não! Deram um nó sueco!

- Parem com isso. O nó é finlandês!

- Quanta ignorância. É só olhar para ver que o nó é egípcio.

- Isso é nó de cadarço! Alguém sabe desamarrar tênis grande?

Enquanto discutiam, Hã desamarrava as amarras com a boca e o Sargento tomava um banho de sais na hidromassagem para tirar a inhaca do suador amazônico e do contato físico com milhões de caboclos antes do embarque.

- Se não sabem o que são amarras, devem estar se perguntando o que é bombordo, estibordo, proa e popa... Façam o seguinte: Figurante A você vai para a esquerda, Figurante B para a direita, Figurante C na frente, Figurante D atrás e Comandante na cabine, pois cabine é cabine...

- FALOU TENENTE. Agora tá safo!

O barco finalmente seguia rumo a imensidão da floresta através do Grande Amazonas. Lindo, imponente e grande, muito grande, grande pacas, barrento, muito barrento, barrentos pacas, por vezes raso, muito raso, raso pacas... Rios, igarapés, canais e todo tipo de hidrovia ribeirinha adicionando água, muita água, água pacas...

Às vezes um navegar suave em águas calmas, outras um rally urbano de rua esburacada por entre o encontro das águas turbulentas de rios negros, brancos, pardos e outras etnias. Num desses momentos de calmaria, o Tenente não agüentou...

- Cabo! I have a dream...

- Tenente! AIRREVADRIN? Que parte do barco é essa?

- Ignorante inculto. I, eu. Have, tenho. A dream, um sonho.

- Eu também, Tenente. Quero trocar minha mulher por duas gostosinhas de vinte. Quero voltar a sonhar ao invés de somente ter pesadelo...

- E eu quero voar sobre o rio Amazonas tal qual em Titanic. Cabo! eu vou para a ponta da proa e você vem por trás...

- Tenente! Mas aquilo era ficção!

- Então faz na real! Vem por trás e segure na minha cintura que agora eu vou voar...

Nessa hora o Sargento entra no convés com uma toalhinha felpuda enrolada na cintura sarada, um charuto cubano na boca, óculos Rayban de Policial Rodoviário norte-americano e se depara com a visão do inferno. O Tenente com os cabelos SEDA Max Hair esvoaçantes com o Cabo atrás...

A mesma cena observada a quilômetros de altura pelo Comandante da KGB, eleito pela PEIDAR, através do satélite de espionagem russa lançado na década de 70, para observar da órbita terrestre a construção da rodovia transamazônica, com a intenção de ver onde o Brasil queria ir. Mas o projeto foi abandonado depois que viram que a Transamazônica não iria para lugar algum, tampouco o Brasil... Ainda tentaram utilizar o mesmo satélite para verificar onde a Ferrovia Norte-Sul iria dar, mas finalmente abandonaram o projeto e deixaram o satélite a deriva no espaço com suas quinze ogivas nucleares em estado de espera, quando constataram que era outra obra que ligava nada a lugar algum, com intervalo inacabado para transporte de carga no lombo de jumento. “Mais uma Rio-Santos inacabada” era a observação anotada abaixo do carimbo soviético ordenando o cancelamento do projeto...

- MAS QUI QUE É ISSO? – pergunta o Comandante da KGB ao subalterno de patente inferior, ao verificar o CINEMAX através da micro tela de seu relógio BULOVA comprado na China.

- Perece que aquela canoa tem uma carranca presa na frente e aquele Cabo está tentando enrabá-la por trás. Deve ser coisa de nativo para atrair bons fluidos a navegação... Que coisa ancestral!

- Aquilo não parece uma carranca. Parece uma bicha louca pensando que está no Atlântico a bordo do Poseidon. Aquela coisinha de cabelos esvoaçantes quer atrair bons fluidos para ela...

- Titanic, Senhor! Não Poseidon.

- Eu disse Titanic, seu indiscreto. Quem disse Poseidon foi você. Volte para seu posto que chamo quando precisar.

- Mas qual posto senhor?

- O posto de coadjuvante na cena. Aguarde sentado naquela cadeira junto com os demais personagens complementares que no momento que entrarmos novamente em ação sua presença será necessária...

- PAREM AS MÁQUINAS! – grita o Sargento, à medida que começa a voltar para dentro da suíte – PAREM AS MÁQUINAS!

O que o Sargento não queria era ficar na presença daqueles devassos somente de toalhinha. Reapareceu vestido, mas nada de encontrar o Tenente e o Cabo na proa.

- Oficial Coadjuvante volte aqui. É impressão minha ou aquelas bichas decidiram nadar no Amazonas?

- Parece que sim, Comandante – observa o subalterno da KGB, contente por ter novamente voltado à cena.

- Mas o que parece aquela movimentação que se aproxima da embarcação – pergunta o Comandante, observando com maior aproximação um turbilhão de borbulhos e bolinhas de ar em direção do barco.

- Sputinic, Comandante! Deve ser o Monstro do Lago Ness.

Era uma manada de antas. As antas, como se sabe, são animais pacíficos e ordeiros. Aquele bando, porém, não parecia nem pacífico e muito menos ordeiro. Várias das antas portavam, inclusive, camisetas de torcidas uniformizadas, costume terminantemente proibido desde aquela trágica final de campeonato, quando uma das antas partiu a clavícula do juiz com uma cabeçada.

- Hum... sargento...

- Quem diabos está falando?

- Aqui, sargento!

O sargento olhava em volta mas não encontrava ninguém. Até que percebeu alguma coisa se mexendo em cima do mastro principal. Era o cabo.

- Cabo? O que você está fazendo aí?

- Eu, bem, eu, ham...

- Cadê o tenente?

- O tenente? Que tenente?

- O tenente, cabo! Aquele que você estava enrabando ali agora mesmo.

- Ah, ham, aquele tenente? Bem, ele...

- Aqui, sargento!

- Tenente, desça daí, homem!

- É claro, sargento. Mas acho melhor o senhor olhar pra lá...

- Eu não me importo nem um pouco com o que o senhor acha, eu estou aqui para ... mas... mas... que roupa é essa, tenente?

- Que roupa?

- ESSA roupa aí, que o senhor está vestindo.

- Ah, bem, é difícil explicar, é que...

- Isso está parecendo aquelas roupas femininas antigas, e isso aí, o que é?

- Isso?

- É, isso.

- Hum, bem, isso é um... ham... espartilho.

- E por que diabos o senhor está usando espartilho?

- Bem, sargento, é que... bem, o senhor nunca assistiu Titanic não?

- Titanic?

- É, é a história de um barco que afunda com milhares de...

- Eu sei o que é o Titanic, oras.

- Então, no filme, não sei se o senhor lembra, mas...

PLAC, TROM BOING

O barco começou a sacudir. Primeiro, de mansinho. Depois, parecia que todos estavam metidos num grande liquidificador. As antas giravam em torno do barco, como se estivessem bêbadas, e muitas delas realmente estavam, dava até para ver uma delas reclamando com a outra que tinham trazido Drurys em vez de Old Eight, mas a conversa delas se perdia no meio daquele escarcéu todo provocado pelas ondas.

- Meu deus do céu, um bando de antas assassinas!

- E agora, quem poderá nos socorrer?

- Será que elas não estão querendo a Hã?

- Hã?

- É, a Hã.

- Não, eu não entendi nada por causa do barulho!

- A Hã!

- EU NÃO ENTENDI NADA POR CAUSA DO BARULHO!

- Não precisa gritar, sargento, eu já entendi... Eu estou dizendo que as antas podem estar querendo o filhote delas, que está com a gente, a nossa mascote, a Hã!

- Ah, entendi... Bem, pegue a Hã rápido então.

O tenente desceu as escadarias correndo. Lá embaixo, aqueles corredores já estavam começando a se encher de água. Um dos portões, que dava para o andar inferior, estava trancado, e alguns tripulantes estavam com as mãos para fora, implorando para que os portões fossem abertos. O Tenente não sabia o que fazer. Se continuava a sua procura pela Hã, ou se salvava os tripulantes. Mas, quando percebeu que ainda estava de espartilhos, achou melhor continuar procurando a Hã e deixar aqueles tripulantes ali trancados. Eles não viam mulheres há muito tempo, vai saber a reação deles.

Encontrou a Hã no ginásio, fazendo umas abdominais. Sem tempo para explicações, agarrou-a e saiu correndo pelas escadas. Quando chegou lá em cima, aproximou-se da amurada e segurou a pequena Hã acima das antas assassinas, mais ou menos do mesmo jeito que o Michael Jackson segurou seu filho acima de seus fãs. Hã esperneava. Quase que imediatamente, uma das antas saltou para dentro do barco. Com os braços estendidos, foi se aproximando do tenente. Seus olhos pareciam marejados. Deu um passo. Dois. De repente ouviu-se um estampido e a anta parou. Um pequeno filete de sangue escorreu de sua testa e ela tombou para trás.

- Tá achando o quê? Eu treino todo dia na academia, rapaz! - disse o sargento, soprando a fumaça que saía do cano da sua Magnun automática de treze tiros.

- Mas que Monstro do Lago Ness p... nenhuma! Antas rapaz, antas ensandecidas! Que p... está acontecendo lá em baixo? – manifesta o Comandante da KGB com lágrima nos olhos.

- Oras Comandante. Não está vendo? Aquele homem de Magnun em punho acabou de meter um balaço na cabeça daquela que entrou na embarcação.

- Isso eu vi. Pergunto o que é aquilo?

- Uma anta com um balaço na cabeça.

- Não! O resto...

- Ah sim! Um monte de antas em fuga depois que aquela tomou um balaço na cabeça.

- Não! Tudo aquilo seu imbecil...

- Oh Meu Deus! Primeiro aquela cena entre a carranca que não era carranca e aquele cara que parecia encoxar a carranca. Depois aquele turbilhão na água. Mais tarde, carranca e encoxador no mastro e, por fim, um tiro na cabeça da anta de braços abertos. Entendeu a seqüência agora Comandante?

- Mas não falava disso.

- Mas eu já estava me perdendo e precisava resgatar minha memória, afinal são muitas informações para um papel secundário.

- Precisamos dar inicio imediato também na nossa MERDA antes que PEIDAR se manifeste, pois não temos dinheiro suficiente para ficar bisbilhotando essa história absurda e ilógica com LINK de satélite espião russo 24 horas por dia. Lembre-se que estamos quebrados depois que nossa comunista, socialista, radical, extremista, altruísta, pacífica e sempre coordenada e controlada URSS se transformou em centenas de vizinhos doidos para ampliarem seus quintais no terreno alheio.

- Verdade isso, Comandante?

- Qual parte?

- Fazer cocô antes de peidar?

- Fazer cocô antes de peidar? De onde tirou isso?

- O Comandante não disse para iniciarmos a merda antes que o peido se manifeste?

- MERDA! Missão Exploratória dos Rios da Amazônia. PEIDAR! Potências Econômicas Industriais, Democratas e Abastadas do mundo...

- Mais a Rússia, senão fica PEIDA!

- Mais a Rússia. Relembrou agora?

- Então! Precisamos lançar imediatamente nossa missão para desvendar aquilo que certamente eles estão tentando encontrar.

- E o que seria, Comandante?

- Não tenho a mínima idéia. Se eu soubesse escreveria o final dessa história sem perder meu tempo enviando MERDA para todo lugar. Desligue o satélite antes que a ANATEL descubra que estamos invadindo espaço aéreo brasileiro sem pagar as taxas, impostos e demais obrigações com as concessionárias de telecomunicações locais.

- Oh paizinho difícil esse Brasil, né Comandante?

- Verdade meu coadjuvante que ganhou umas cenas extras. Depois criticam nossa ex-amada URSS. Nós, com nossas estatais, éramos chamados de Comunistas. O Brasil com todas essas estatais empregatícias é chamado de Capitalista. Lênin, quanta saudade! Stalin, por que nos abandonastes!

Na mesma hora o Coadjuvante promovido à personagem de primeiro escalão, ligou do telefone vermelho do Kremlin para Coffee Annan e pediu liberação de verbas extraordinárias no orçamento da ONU para dar inicio na MERDA russa. Imediatamente o batuqueiro amigo de Gilberto Gil ligou para Horst Köhler e pediu liberação de verbas extraordinárias no orçamento do FMI para dar inicio na MERDA da ONU. Horst, por sua vez, ligou para Condoleezza Rice e pediu liberação de verbas extraordinárias no orçamento da Casa Branca para dar inicio na MERDA do FMI. Rice, sempre solicita ao consenso pacífico, ligou para Arnold Schuaznegger, Governador da Flórida, que ligou para o Congresso Americano, que ligou para o representante da comunidade judaica e pediu liberação de verbas extraordinárias no orçamento de Israel para dar início na MERDA do Bush...

- MAIS UMA MERDA DO BUSH!

Foi a primeira frase ouvida antes que o dinheiro fosse liberado para mais uma invasão em território hostil e inóspito de um país de terceiro mundo qualquer...

- NADA DE VENEZUELA! CUBA TÁ LIBERADO!

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