Capítulo 00010100

E foram descendo as cegas, já que a torre de controle de Brasília estava um verdadeiro inferno. Mas longe de ser conseqüência da nuvem de fritura e dos efeitos avassaladores de sua contaminação. Tratava-se de uma greve dos Controladores de Vôo que queriam 300% de aumento salarial, 50% de redução no número de controles simultâneos de aeronaves, vale transporte, Ticket Restaurante, plano de saúde familiar e outros benefícios concedidos a funcionários do alto escalão do Governo Federal. Só não queriam cotas de passagens aéreas gratuitas, afinal, Controlador de vôo inteligente viaja de carro, ônibus, navio e deixa o avião para quem não tem respeito a própria vida...

- Sargento, o senhor voltou – comentou o Tenente em mutação, ao olhar o sargento revigorado em solo...

- Você também Tenente. Deixo de ser aquela delícia de Ana Paula e voltou a ser esse indigesto macho com síndromes femininas na minha frente...

- Ah! Pode falar o que quiser. Estou tão feliz que lhe daria um beijo Sargento.

- Não precisa não! Principalmente que não fez isso enquanto era Arósio. Agora é que não quero.

- Mas o senhor era um tapete. Fora o Papa, o senhor já viu alguém beijar um tapete? Não seria eu a fazer isso.

- É verdade...

- Mas e agora o que faremos Sargento?

- Precisamos tornar publica nossa descoberta. Precisamos compartilhar essa vacina social. Precisamos...

- Fugir daqui. Aquela jaboticabeira faminta está vindo em nossa direção, juntamente com aqueles porquinhos da índia e aquele monte de personagens esquisitos que me recuso a repetir...

- Então vamos. Monte em mim!

- Epâ! Como assim montar? O senhor não é mais tapete voador. É algum tipo de fetiche antes de morrermos?

- Nada disso. Também não gostava de patinete quando criança e só de pensar nisso começo a sentir rodinhas surgindo no meu pé.

- Nessa posso ajudar Sargento. Nunca gostei de motor. Sempre achei o cheiro de gasolina enjoativo e aquele melaço de graxa um horror. Só de pensar nisso já estou sentido pistões e virabrequins tomarem conta de mim. Vamos que já estou em marcha lenta.

- Então monta ai e acelera de 0 a 100 como uma Ferrari.

- Pra onde sargento?

- Calma lá! Você dá a impulsão. O leme é por minha conta.

- Mas para onde sargento?

- Vamos atrás de uma emissora de TV que chegue a todos os lares do mundo. Acabei de ter uma idéia.

- Então vamos para a Rede Globo?

- Que Globo o que? Vamos para aquela que o Charada usou no filme do Batman e que não consigo lembrar o nome. Aquela emissora chega no mundo inteiro. Lembra?

- Pode crê! E faremos o que lá?

- Oras! Jornalismo é que não é. Daremos a boa nova em cadeia mundial. Todos saberão como se salvar dessa tragédia e depois disso tudo ainda seremos convidados par ir ao programa do Jô.

- Ih! Falando em Jô, não é ele que odeia coco? Deve ter virado uma cocada enorme o coitado.

- Pior não é isso. E as pessoas que odeiam formigas! Devem estar se empanturrando com essa cocada gigantesca.

- Mas pelo menos quando ele voltar ao normal estará mais light. Com bem menos calorias no corpo.

- Talvez sim, talvez não! As formigas podem comer bem mais do que simplesmente açúcar. Podem invadir a parte mais interna da cocada...

- É mesmo Sargento. A propósito. Quando virou gente, chegou a perceber qual parte o Legacy lhe arrancou naquele choque? Melhor ainda! Quando fugimos da SOSOJA o senhor também perdeu uma linha enroscada. Nessa reconversão - depois de tanto fio solto - sentiu falta de alguma coisa?

- Melhor mudarmos de assunto.

- Mas conta Sargento. Afinal daqui até a estação de TV mundial mais próxima vai levar um tempão e não iremos calados até lá. Iremos?

- Taí! Não precisamos ir tão longe. Como sou burro.

- Não me diga que não gostava de burro também. Se virar um, onde me enfiarei enquanto motor?

- Não! Nada disso. Dizia que não precisamos ir até a emissora do Charada. Até porque nem sei onde fica. Mas podemos ir para a emissora da Igreja Universal, quem sabe da Igreja Internacional...

- Até mesmo da Igreja Mundial, afinal todas atingem a Terra.

- Atingem mesmo Tenente. Chegam onde você nem imagina que exista gente, quanto mais igreja...

- Boa idéia sargento. De uma delas poderemos contar ao Mundo aquilo que descobrimos e salvar a humanidade.

- Só espero que não queiram saber como acabaram virando tais coisas, afinal, fomos nós quem destruímos toda aquela soja japonesa transigência cultivada por ex-kamicases fugitivos.

- Nós não! A pobre da Hã! A maior enterrada anal da história, não podemos nos esquecer.

- Tá bom! Mas nós fizemos a merda e nós iremos concertá-la.

E assim seguiram sua saga, a esperar um final feliz para essa história apavorante e inovadora, afinal, depois de tudo isso, qualquer um pode escrever qualquer coisa que se encaixa perfeitamente no enredo. Enredo?

Foram cruzando com todo tipo de gente transformada em tudo que é coisa. Passaram por entre hidrantes com incontinência urinária, postes de iluminação sem um pingo de energia sexual, escadas rolantes travadas com chicletes, caixas de correios cuspindo papel para tudo que é lado e outras aberrações a esperar na fila do SUS para atendimento de emergência. Todos queriam serem atendidos com a maior urgência.

Mas atendidos por quem? Enfermeiros haviam virado médicos, médicos haviam virado donos de hospitais e donos de hospitais haviam virado pacientes de urgência em estado de emergência. Existe coisa pior que ser vítima de seus próprios medos? Alguns pacientes haviam se transformado em seringas, outros em aparelhos de endoscopia e uma minoria de velhinhos, em grandes dedos de proctologistas vestidos com camisinhas para exames de rotina... Rotina os cambau!

Mas enfim, estavam a caminho de uma emissora qualquer para a boa nova para a humanidade. E Michael? Longe dali tentava entender o por que havia virado novamente o menininho dos The Jackson Five. Olhe que tristeza...

* * *

- AKIRA!

- Hum!

- AKIRA! Acorude menino.

- Hum!

- KULOSAWA já de pé.

- Hum!

- Sonhando novamente menino?

- Hum!

- Vá ajudaro seu pai na parantação de aloiz.

- Mas mãe...

- Vá colhero aloiz e pare com esses sonhos.

- Mas mãe...

- Já te falei que esse negócio de sonho é coisa de padeiro.

- Mas mãe...

- Isso não vai te levaro a lugaro algum. Perecisamos de você na parantação de aloiz. Ali sim você tem futuro...

- Aloiz mãe?

- Sim, aloiz!

- E meus sonhos mãe?

- Imagine se alguém, algum dia, vai se interessaro por sonhos de Akira Kurosawa...

- Mas deixe eu perguntaro uma coisa?

- Sim! Sim!

- Quem são Michael Jackson e Ana Paula Alósio?

- Quem?

- O que é soja tlansgênica?

- O que? Andou tomando saquê do seu pai?

- Não mãe! Quem é Jô?

- Quem? Digo! Não selia quem soi jô?

- Porra mãe! Isso é espanhol. Perguntei quem é Jô?

- Porra Akira! Assim você está complicando...

- O que é nanotecnologia?

- O que?

- Tá vendo mãe! E você ainda quero que eu fique só parantando aloiz. Isso não vai levaro o Japão a lugaro nenhum.

- Mas filho...

- Assim, só o Brasil, aquele país onde parte de nossa família imigrou no começo do século vai se desenvolvero. Lá existe purosperidade. Brasil é o pais do futuro...

- Mas filho...

- Chegará o dia em que o Brasil será uma glande potência super desenvolvida e nós continualemos a parantaro aloiz e comero buroto de bambu, buroto de feijão e sei lá qual mais buroto que aparecero nessas paradas. Eu mesmo quero comero um buroto.

- Mas filho...

- Sai para lá mãe... Deixa Akira sonharo em paz...

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