Antes que “IMBECIL” fosse repetido por toda a tribo em honrosa homenagem a tão inteligente tenente, a loirinha ex-aeromoça se aproxima e cobra providências...
- E quando vocês vão fazer a vaquinha? – pergunta a gostosa aeromoça completamente perdida naquele papo de mapa astral, espaço tempo e perdidos na espaço...
- Espere ai mocinha! Estamos frente a frente com a maior descoberta da humanidade e você vem com esse papo de tirar a roupa e ficar peladona... – enerva-se o Tenente.
- Peraí, Sargento! Não bastasse eu ter que esperar a VARIG pagar meus salários atrasados, depositar encargos e oficializar minha demissão junto ao sindicato, para que eu possa entrar com pedido de salário desemprego e liberação de FGTS e agora vem o senhor com essa ladainha de maior descoberta da humanidade. Peraí. Prioridade é prioridade e entrei primeiro na fila. Eu sim quero ser descoberta por essa humanidade. Sejam humanos! Mas se não querem, eu fico como estou. Só de calcinha e sutiã, pois não vou colocar novamente aquele uniforme de navegação...
- Calma lá! – espanta-se Darwin - Para vocês que estão acostumados com mulher sem roupa pode não ser nada, mas para mim, que vim do século onde mulher pelada era aquela que mostrava as mãos em público sem luva, o assunto é outro. Tira tudo meu amor, que pago o quanto você quiser. Até porque não agüento mais esse negócio de teoria da evolução, iguana, homenzinhos verdes, nave espacial e essa bendita fenda de tempo no espaço que parece absorver só macho aqui nesse lugar.
- Isso sim que é um cavalheiro – insinua a loirinha desempregada – Agora recebi a atenção que merecia. Vejamos! Quinhentinho tá de bom tamanho. Mas estou aberta a negociações... E nem precisa ser no cash. Aceito vale transporte, ticket restaurante, vale pedágio, ficha telefônica...
- A mesma ladainha! Parece jargão decorado de campanha eleitoral – observa o Sargento decepcionado em constatar na repetição textual uma dose de profissionalismo sem igual.
- Eu pago, eu pago. – exalta-se Darwin.
- EU TAMBÉM! EU TAMBÉM! EU TAMBÉM! – gritam centenas de extraterrestres cansados daquele papo de COOCON virtual com bola incandescente de energia sexual viajando de corpo em corpo.
- Ipi, ipi, urraaa! Tá ficando melhor que a proposta da Playboy para aquelas colegas oportunistas! É hoje que eu vou me dar bem. Calma, calma crianças que tem para todo mundo – empolga-se a ex-evangélica ex-aeromoça ex-assessora ex-pertinha funcionária da equipe de MERDA.
Na mesma hora Darwin se intitula como o primeiro da fila e logo atrás se instala um corredor do INSS com marcianozinho a chupar o dedo e cutucar o bilau de tanta vontade reprimida há séculos...
- VAMOS REENTRAR NA ATMOSFERA – repetem os devassos homenzinhos verdes.
- ACELERA ESSA TURBINA – observa um Et mais afoito.
- HOJE VAI TER IMPACTO PROFUNDO – satiriza outro.
- VAI QUE É TUA TAFAREL - fala Galvão Bueno.
- VAMOS NO DARWIN MESMO – repete o restante
- VAMOS DESVENDAR O BURACO NEGRO - insinuam alguns, amedrontando o criador da teoria da evolução que não avança na fila.
- Buraco Negro o escambau! – Tira da reta Charles.
- Êpa! Só vou tirar a roupa! Armagedon é outra negociação – observa a loira já pensando em abrir uma filial – transar é outra história. Minha religiosidade não permite isso nem para aproximação entre os povos. Apesar de que as escrituras não falam sobre Ets. Proíbem entre os homens. YESSSSSSSSSSSS!
- Oh ho! Olha eu aqui! Também quero participar desse livro, levá-la para um banho na cachoeira e apresentá-la para a cobra grande – finaliza King Kong saído sei lá de onde...
- Cobra grande o cacete. Isso é competição desleal e você nem faz parte desse enredo – irritam-se Darwin e todos os Ets de Varginha na mão em verso e prosa a esperar a loirinha começar a ficar nua.
Depois da loirinha peladinha e gostosinha tratada com Deusa, tudo começa a voltar ao seu lugar. ETs a se comportarem mais aliviados e Darwin, depois de ter matado a saudade da teoria da evolução das espécies, se apresenta mais calmo ao Sargento e questiona os motivos da presença da MERDA naquela névoa de séculos.
A Névoa era uma cidade muito bem planejada. Possuía um desenho urbano impecável com quadras bem definidas incrustadas por entre igarapés canalizados e amplos canais de pista dupla que comportavam os corredores de ônibus fluviais. Não existiam carros, mas parecia que cada família possuía seu próprio jet-sky para passeios de final de semana.
O Sargento e sua trupe ficaram maravilhados. A ex-aeromoça, também encantada, aproveitou da influência que havia conquistado e logo arrumou um emprego de comissária de bordo da NASA – Navegação Amazônia SA, a única companhia responsável pelo transporte no local, mas que, mesmo sob as benesses do estado, já acumulava uma dívida de US$ 8 bi com Bamerindus, Banespa, Banerj, Banestado, BNDES, BID, FMI e o Banco Santos.
À medida que Darwin lhes apresentava o projeto urbano desenvolvido por
- MAS QUI QUIÉ ISSO? – Pergunta o Sargento à Darwin ao observar a existência de um mega hipermercado.
- Trata-se do AllMarte Sargento. Um hipergigamercado de produtos da floresta e outras guloseimas do mundo ocidental, afinal esse negócio de industrializado é bom para cacete. Tudo o que precisamos encontramos aqui. E podemos pagar com MarteCard, o nosso cartão de crédito. Na realidade qualquer compra ou serviço pode ser feito com cartão através de debitado automaticamente
- Caracas! Estou sem fôlego. Tem mais?
- É claro – responde Darwin - Ainda temos o Shopping Market Marte Place com Marte’Donalds na praça de alimentação. Precisa experimentar o Marte’Turtle ou Marte’Alligator. Deliciosos! Mas se prefere algo árabe temos o Osama Bin Marte. Um luxo! Pratos de tirar o fôlego. Mas eu prefiro o Marte Sheen. Serve um seria-sushi com raiz forte, gengibre e broto de bambu que é um tesão.
- NUM ACRIDITU!
- E não para por ai não! Se já está assim com essa pequena amostra, vai cair de costas quando conhecer Beach Marte Park, nosso parque aquático e o Museu de mARTE Moderna. Temos vários quadros de Anita Malfatti, Pablo Picasso, Di Cavalcanti, Portinari, Tarsilla do Amaral e outros modernistas da era moderna, além de seus antecessores da época antes da moderna. Somos os principais compradores de atravessadores informais do ramo cultural de aquisições ilícitas. Temos de tudo um pouco. Vincent van Gogh, Henri Matisse, Eugène-Henri-Paul Gauguin, Salvador Dali, Pierre-Auguste Renoir, Jean-Baptiste Debret e esculturas de Aleijadinho, Rodin, Michelangelo e até do Léozinho.
- Léozinho?
- Da Vinci. Sabe aquele do código? Pura verdade! Léo é fera!
- Então são vocês que ficam com as obras roubadas?
- Roubadas não! Resgatadas. Os autores gostam de ter suas obras novamente em sua companhia, principalmente depois que viraram uma fortuna após suas “mortes”. Adoram ficar admirando aquilo que criaram e que na época não foi reconhecido. Coisa de autor excêntrico e mau pago...
- Mas tais pintores estão mortos! Ou não?
- Vivíssimos meu querido! Compõem o Comitê Gestor da mARTE Visual. Nunca morreram! Simplesmente atravessaram a passagem. Lembra aquela porta espaço-tempo? Então!
- Caracas! Viraram borboleta. Metamorfose ambulante...
- Ah! O Raul está aqui também. Mas esse faz parte do Comitê Gestor da mARTE Auditiva, juntamente com Elvis, Jenis Joplin, Jimi Hendrix, John Lenon e tantos outros. Quem não gostava muito desse negócio de mARTE Auditiva era Beethoven, mas depois que lhe arrumamos um aparelho de surdez ficou bem mais calminho. Somente ainda não conseguimos amenizar o clima entre Salieri e Mozart. Aquele papo de veneno ainda não foi resolvido.
- Então Ludwig Van Beethoven, Wolfgang Amadeus Mozart, Antonio Salieri, Johann Sebastian Bach, Johannes Brahms, Frédéric Chopin, Johann Strauss Wilhelm Kempff, Franz Schubert, Franz Litzs, Ignaz Friedman e...
- ... quem você pensar de bom está aqui. Uma cidade sinfônica inacabada. Sempre chega um Tom para uma nova nota.
- NUM ACRIDITU! Então Marylin Monroe, James Din, Ingrid Bergan, Clark Gabel...
- ... Humphrey Bogart, Audrey Hepburn, Grace Kelly e muitos mais. Corretíssimo! Raul Cortez chegou há pouco! Mas esses fazem parte do Comitê Gestor da mARTE...
- ... Cênica! Correto? Já estou ficando bom no assunto.
- Está ficando fera!
- Então nem vou perguntar se Sigmund Schlomo Freud, William Sheakspeare, Martin Luther King, Mahatma Ghandi, Mario de Andrade, Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, outros Andrades e Marios Quintana também estão por aqui...
- E precisa? Todo mundo vem para cá e participa de algum Comitê Gestor de Alguma Coisa. Tem a mARTE Literária, mARTE Científica, mARTE Desportiva. Aqui ninguém coça o saco não. Só os marcianos. Mas como são os donos do MST – Marcianos Sobre a Terra, não podemos nem reclamar, afinal eles chegaram aqui primeiro e abriram a porta para nossa passagem. Como viemos para cá como “arroz de festa” e entramos de bicão, em retribuição idolatramos a coisa verde. As antas também coçam, mas isso já é caso perdido. Síndrome de serviço público...
- Então virei para cá também – empolga-se o Sargento.
- Nananinanão! O Senhor já está aqui. Os grandes personagens da história vieram depois, ou melhor, vieram antes de “morrer”. São seres evoluídos, assim como eu e outros teorizadores da evolução. Mas os idealizadores da Bomba A foram para o porão. Ficam alimentando de carvão as caldeiras que geram a névoa. Aqui todo mundo tem uma ocupação. Até gente ruim. Mas essas vão para o subsolo. Coisa de inferno, sabe como é!
- Opa! Então é melhor que eu repense essa idéia, afinal de onde vim sou servidor público e assim sendo já garanti meu burro na sombra. Não prestei concurso público para ficar trampando a vida inteira sem aposentadoria. Escravidão na Amazônia em regime de cativeiro é crime e da cadeia. E os Direitos Humanos?
- Nem direitos, nem esquerdos humanos Sargento. Aqui todo mundo é ambidestro. Aqui todo mundo assovia e chupa cana...
- Mas e o trabalho escravo?
- Escravidão não, evolução! Lembra da minha teoria? Quem trabalha evolui. Quem coça o saco...
- Mas eles não têm descanso – observa o Sargento perplexo.
- Bah Tchê! É o sonho amazônico. Somos os voluntários da Amazônia – completa Darwin tentando dar uma de inglês gaúcho tentando mostrar que é macho brasileiro – Bah Tchê. Aqui cada um dá o que tem e não reclama disso. Dar pelo desenvolvimento...
- Mas isso era década de 70. The dream is over my Darwin…
- Game Over uma pinóia! Mal começamos a saga inspirada por nosso ícone máximo, nosso porta-voz das selvas, o adorável Amoral Nato o Reporter. Agora confundi! Seria Amaral Neto o Repórter? Você lembra do repórter da ditadura!
- Não sei nada desse papo de ditadura do Amaral. Só lembro da ditadura do Castelo, Mécidi e João Cavalgada. Mas nesse da ditadura já estava ficando mole...
- Então! Desde aquela época a gente ficava na mata observando as gravações aéreas. Era só o DC-10 Repórter voltar para a base que nossos ETS aproveitavam para surfar na pororoca. Era uma onda aquela época. Mas agora vive enchendo de surfista oxigenado de loiro e os Ets ficam envergonhados de ficarem nus.
- E ninguém nunca os viu?
- Nem quando rasgaram a Transamazônica. Naquela época até ficamos com medo de sermos descobertos. Mas se nem General Rondon conseguiu, não seriam outras patentes, tampouco outros patetas que o fariam. Nossa névoa é boa para cacete. No entanto muitos índios acabaram despejados da floresta. Não foram poucas as tribos que vieram de mala e cuia pedir guarida aqui para montar seus cortiços. Traziam todo tipo de tralha e quando começaram a montar suas lonas plásticas, dissemos um basta e também colocamos todos MSI – Movimento Somos Índios - para correr.
- Que pecado! Não se pode negar um copo d’água a um moribundo despejado de seu lar vagando a procura de ajuda.
- Pecado os cambau! E não negamos água não! Jogamos todo mundo no rio e mandamos ir a nado para as capitais amazônicas.
- Quanta crueldade Darwin. Muitos devem ter se afogado.
- Teoria da Evolução meu caro. Somente os mais fortes sobrevivem e evoluem. Somente os mais sábios e valentes chegaram lá. Demos nossa mãozinha na evolução das espécies. Mas não temos nada a ver com essa mutação de antas. Isso se desenvolveu sozinho.
- Mas muitos índios morreram.
- Mas morrem desde a descoberta do Brasil, vai dizer que não sabe? Mas muitos evoluíram. Quero dizer. Mais ou menos. Vá ver como estão algumas dessas cidades e conteste se não estávamos certos em por para correr os herdeiros da Terra de Vera Cruz e seus herdeiros miscigenados, oxigenados e nem sempre higienizados. Aqui só queriam ficar comendo churrasco de picanha com farinha, papear sobre putaria e sacanagem e discutir sobre futebol. E futebol carioca! Todo dia churrasco. De segunda a segunda. Também ficavam esperando concurso público ou vaga no gabinete de algum político para ficar sem fazer nada e ganhar por isso. Faça-me o favor! Nem gaúcho macho come tanto churrasco e coça tanto o saco. Pelo menos não seu saco!
- Não seja injusto! Existem capitais amazônicas evoluídas. Têm uma que até é Zona Franca.
- Zona Francamente! Certamente bem limpa, cheirosa e super saudável. Realmente! Uma zona desurbana e desumana.
- Também não vamos exagerar oh Darwin! Tá certo que algumas cidades possuem uns pequenos problemas. Mas no norte é assim mesmo, pois contra tempo ruim não há o que fazer. Quando não chove demais, faz sol demais. Não tem clima bom!
- Por isso os governantes deixam que a natureza limpe tudo né Sargento? Eu sei como é isso! É mais barato, portanto sobra mais dinheiro, dá menos trabalho, portanto sobra mais tempo. Conclusão: mais tempo para roubar o dinheiro que sobra...
- Sacanagem Darwin! Ai já está exagerando! As coisas não funcionam somente assim. Existe honestidade nos homens de bem.
- Só se for na Madre Teresa de Calcutá sentada ali perto do Padre Cícero ao lado do Papa João Paulo II. A bem da verdade ele ainda continua tremendo as pampas. A passagem não ajudou muito. Cai na real Sargento! Por isso os maus que caem aqui trabalham no porão alimentando as fornalhas que produzem a névoa. Mas vamos mudar o rumo dessa prosa que já está ficando politicamente correto demais e já deve ter gente de saco cheio com essa ladainha toda de plano diretor de cidade e política correta.
- É verdade! Onde estávamos mesmo antes de tudo isso?
- Sabe que eu não sei! Acho que estava lhe mostrando nosso Shangri-La. Deixe-me observar em minhas anotações. Um momento..
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